Vislumbre de felicidade
Não sei ser feliz. Esse é um facto consumado há muito e quanto a essa matéria já não há grandes questões ou tentativas de contrariar ou resolver. Não sou, não sei, não consigo ser feliz. Ponto. Nada a fazer. Vivo bem com isso, sei os meus limites e sei, na minha assustadora lucidez lancinante, quando começo a resvalar para o dark side. Sem dramas, sempre assumi esta condição, mas nunca o papel de vítima. Porém, há um par de dias, e por uns breves minutos, experimentei uma sensação de felicidade (quase) plena. Não estava à beira-mar, não estava a cheirar terra molhada ou relva acabada de cortar, não estava a olhar para o crepitar do fogo na lareira numa fria noite de Inverno, nem a apreciar um pôr-de-sol exótico numa savana longínqua. Estava na minha varanda, apenas isso. Num fim de tarde com temperatura amena, a olhar para o horizonte. De pijama. Completamente vazia. Mas tão, tão feliz.